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Foto do escritorNael Rosa

"Estamos próximas da extinção", lamenta benzedeira da Faxina, que há 50 anos aplica conhecimentos herdados da mãe

Foto: Nael Rosa

Há 50 anos, no Quilombo da Faxina, Vera Maria aplica o dom recebido de dona Alaídes

“Que tudo de ruim seja removido: olho gordo, inveja, ciúme, mau olhado. Que seja tudo cortado do corpo desse irmão. Eu te benzo e Deus que te cure, em nome dele e da Virgem Maria”.


Por décadas, certamente mais de cinco, com essas palavras, a benzedeira Alaídes Severo Damasceno, foi procurada não só por aqueles que eram residentes na Ponte do Império, distrito rural e que fica às margens da BR-293, dentro território piratiniense, mas, inclusive, por pessoas das demais localidades e ainda de cidades vizinhas,  


O tempo passou, os crentes em seu dom, partiram, mas como o conhecimento ancestral foi repassado para a filha, outras tantas gerações continuaram e, ainda continuam à busca dessas rezas e súplicas que acreditam, ajudam a restabelecer o equilíbrio físico, espiritual e material, nisso que é visto como o intermediário entre o sagrado e o humano, e que objetiva curar e promover o bem-estar.

“Herdei da minha mãe. Benzo há 50 anos, desde os 20, e não faz mais tempo porque,  ao a ver fazer enquanto eu ainda era uma criança, começava a rir e, ela que partiu aos 96 anos, ficava brava e me chamava a atenção: Maria, para, não presta rir, tens é que aprender para continuar a fazer o bem para as pessoas”, recorda a quilombola Vera Maria Damasceno Couto, 70 anos, residente no Quilombo da Faxina, zona rural situada à beira da ERS-702, em Piratini, que há meio século coloca em prática, tudo que sua genitora ensinou.


Ela garante que suas rezas, entre estas, a que usa um galho de arruda, abrem portas, ou seja, colaboram para que a jornada dos benzidos seja abençoada pelo Criador.


“Das formas que mais uso, faz parte um copo, brasas e uma tesoura. Se as brasas ficam na borda do copo, é porque tudo está tudo bem na vida da pessoa. Mas quando elas descem para o fundo, é porque as coisas não andam boas. Há olho gordo, mau olhado e até espíritos que, muitas vezes, não querem fazer nada contra, mas deixam as pessoas perturbadas”, afirma Maria, que finaliza lamentando estarem as benzedeiras, próximas da extinção:


“sim, já estamos próximas do fim. Um exemplo é que dos meus quatro filhos, nenhum se interessou em aprender, sendo assim, não tenho como repassar o dom que recebi de minha mãe”.


Reportagem: Nael Rosa

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